Assim falou Fatou

Sente aí juventude, precisamos falar de um assunto grave, ressoam por anos, os estragos causados por um jovem esquizofrênico que ascendeu o fascismo...

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A arte de Bruscky

Um sábado desses passei em frente a uma feira de livros na busca por uma novidade, entre outros títulos encontrei uma coletânea poética, “ Stereo Invenção Recife ”...

O oportunismo deveria morrer na praia

A problemática diante da forte imagem do menino morto na praia é que o alto compartilhamento dela pode tornar o fato banal...

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Viva as ciclofaixas!

Quem nunca ouviu isso que atire a primeira roda. Ao longo dos anos, todo mundo sabe que a tendencia - mundial, talvez - é de cada vez mais incentivar o uso da bicicleta..

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sobre o dia em que não levei um baculejo

Era um dia normal. Acordei, me arrumei e saí de casa de manha cedo para dar aula no estágio. Pego o primeiro ônibus que vai até a estação de metrô, onde lá vou até outra estação e pego outro ônibus para a UFPE, meu local de trabalho-estágio e onde faço a graduação.  Ao menos, essa deveria ser o roteiro a ser executado. Como sempre. Como todos os das. Mas um acontecimento, que infelizmente se repete sempre no nosso Brasil, me deixou muito triste. Triste talvez não seja palavra certa. Porque naquele momento eu não me senti no direito de estar triste, parece que esse sentimento era por direito apenas dele. Ninguém igual mim tinha o mínimo direito de estar triste. O máximo que eu tinha o direito era de ficar estarrecido, chocado e enojado. 
Vamos lá. Eu estava esperando o metrô, sentado. Do meu lado um rapaz aparentando uns 20-23 anos. Negro. Para a sociedade e as pessoas ao redor, ele não estava ~bem vestido~. O rapaz, na qual não sei o nome, segurava uma bolsa de bebê, azul clarinha, pequena. Uma fofura.  Estava do meu lado. Sentado. Esperando o metrô também. Como todas as outras dezenas de pessoas também. 
Recife atualmente sofre com uma onda de assaltos nos metrôs e ruas da cidade. Antes de sair pedindo policiais nas ruas, como meio de "enfrentar" esse fato, devemos pensar nos fatores que causaram estão causando isso: a falência do Estado. A falência do capitalismo como modelo socio-economico-cultural. A falência do neoliberalismo. A falência das politicas públicas de segurança. A falência da educação brasileira. A falência da meritocracia. A falência do sistema político-eleitoral brasileiro. A falência da credibilidade dos partidos. De esquerda (salvo alguns) e todos os de direita ou centro direita.  O problema é sério e urgente.

(Imagem: Vitor Teixeira. Sobre a chacina em Osasco, SP)




Com esse aumento dos assaltos, o governo e o MetrôRec resolveram aumentar a segurança nas estações e linhas. Estava eu, sentado. E ele, do meu lado. Mais rápido que qualquer coisa, um dos PMs que estava na plataforma chamou brutalmente o rapaz, pegando-o pelo braço e mandando-o encostar na parede. E fez o baculejo. Todos os curiosos passaram a olhar para o que estava acontecendo. Um baculejo é a coisa mais rara do mundo, não é? Todos olham e escuto o tradicional "se tá levando é porque boa peça não é". Eita preconceito enraizado.  De estava sentado, pude ouvir uma parte da conversa com dele com o policial. "cade identidade?" "indo pra onde?" "tem o que na bolsa?" 

Escutei como resposta que ele estava indo visitar a filha no hospital. A bolsa. Os policiais, frustrados explicitamente por não encontrarem nada, mandaram ele embora. E ele senta no banco. Triste. Desolado. Triste com raiva no olhar. Pude ver isso, de dentro do metrô que tinha chegado. E subitamente e com dor no coração, me veio a questão. Porque não fizeram baculejo em mim? Porque não me revistaram? Ou mandaram eu abrir a minha bolsa ou perguntaram pra onde eu ia. Porque eu não fiz nada? Fui covarde. Congelei.Talvez como as outras pessoas ao redor. Eu, homem cis, branco. Privilegiado triplamente. Só faltava ser classe média. Me senti naquele momento enojado de mim mesmo. Do que eu representava. Das facilidades que a sociedade, sempre racista, transfóbica, machista e misógina, me deu. Já passou há milênios da hora de reconhecermos. Não é mais a vez de apenas pessoas como eu estarem como protagonistas de lutas. De movimentos. De cargos de poder. De posições altas. De serem livres de ser parados pela polícia a troco de nada. Baseado apenas no racismo constante e doloroso para quem sofre. Eu, homem cis, branco, tenho como principal responsabilidade reconhecer essa realidade e apoiar com tudo que tenho as lutas dessas pessoas E não ser premiado por isso. Nem merecer troféu. Ter o máximo de empatia possível. E como futuro professor, trazer reflexões para meus alunos. E  Refletir. Muito. Sempre me perguntarei o porquê de não terem feito baculejo em mim.